annette: "minha cabeça é um jardim de flores"

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“Minha Cabeça é Um Jardim de Flores” é o titulo da exposição da artista Annette Keis, que apresenta o resultado de sua pesquisa, ainda em andamento, inspirada no best seller “O Segredo”, de Rhonda Byrne. Formada em Design e Artes Visuais na Alemanha, onde nasceu, a artista atua tanto em sua terra natal, particularmente em Berlim e Günzburg, como em Florianópolis, onde reside. Sua linha de trabalho nas Artes inclui desenho, aquarela, pintura, moda, design, instalação, multimídia e arte-educação.

Em visita á abertura da exposição realizada no mês de outubro no Centro Integrado de Cultura, foi possível perceber de primeiro os meios utilizados. Entre objetos, pinturas, gravuras e instalações, o relacionamento entre os visitantes e o espaço se dava de forma performática uma vez que se podia interferir na obra comendo parte dela e escrevendo desejos em um livro. Ao adentrar o mundo das ideias da artista, foi possível descobrir o conceito de sua pesquisa entorno da visualização.

Para perceber o processo de criação incutida no conceito foi preciso compreender o cronograma da exposição que contava com quatro momentos fundamentais.

1° momento: Ritual da Abertura (intervenção): Mandala comestível salgada, música voz e violão (artista convidado) e oferenda (o milagre de Kanaan).

2° momento: Visualização (performance):Leitura do livro dos desejos e visualização em meditação com participação de visitantes.

3° momento: Chá e Conversa (relacinamento): Estar presente aqui e agora. Discussão, interpretação e doação.

4° momento: Ritual da Gratidão (intervenção): Mandala comestível doce, pintar ao vivo e presentes ao público (aquarelas e gravuras originais).

Notoriamente a artista demonstra uma ideia sequencial, onde faz alusão ao rústico e à essência do ser humano. Trata de sentimentos comuns a todos, por um prisma espiritual, positivo e alegre. De forma agradável chama o público para uma participação leve convidativa á apreciação e compreenção da visualização como fonte de poder. O trabalho de Annette é persuasivo e profundo quanto aos questionamentos pessoais e sociais de autoconhecimento, autorealização e autocura. Transforma sua exposição em um ritual de afirmações que abrangem não só o seu mundo dos desejos como os de muitas pessoas, e ainda abre espaço com generosidade, para que os visitantes expressem vontades particulares no livro dos desejos, o qual é lido pela artista que exercita a visualização de tais desejos.

Portanto, suas obras estão relacionadas aos desejos: estar com amigos (pintura, desenho, objetos de escultura), amor (pintura e intervenção musical de artista convidado), criatividade (instalação com pintura, xilogravura, desenho e objeto), abunância material (pintura e objeto), interação (instalação e performance pelo livros dos desejos e todos acontecimentos), saúde (mandalas de alimentos) e poder mágico (instalação com liquidos transparentes como agua e vinho). Desse modo, cada posição escolhida para as obras contemplam ora composições, ora instalações que remetem á sua visualização.

Annette, tem como referências pesquisadores no ramo da psicologia e espiritualidade que atrelam poder ás afirmações advindas da mente subconciente, utilizando conceitos da neurolinguística e dicas de afirmações positivas. Percebe-se uma forte ligação aos conceitos budistas de não violência, simplicidade, positividade e gratidão. Especialmente citada pela artista é a referência de Rhonda Byrne que no filme “O segredo”, traduz as leis do universo como um roteiro para a bem aventurança. Além desse título chama atenção o livro de Luise L. Hay, Gesundheit für Körper und Seele (Saúde para corpo e alma) que trata do treinamento mental para alcançar todos os desejos, através de uma atitude positiva na vida e como as formas pensamentos contribuem para a somatização de doenças que podem ser diluídas através de afirmações bem claras e objetivas.

A artista com sua exposição Minha Cabeça é Um Jardim de Flores, transmite através de uma cultura visual o resgate da conexão entre a visualização e o poder das afirmações incutidas no universo ritualístico. Isso porque é da essência humana desde que o homem das cavernas visualizava sua caça através de simbologias visuais e talvez sensitivas, e ainda hoje tribos revelam sua maneira de conviver com as inquietações por meio de significar suas crenças em comunhão com a realidade. Veja aí, então, uma congruência tanto na pré-história quanto nas tribos selvagens ou urbanas decodificações fundamentais para a sobrevivência no mundo cotidiano.

Marjorie Azevedo Vasques